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Pritzker 2017 para Ramón Vilalta, Carme Pigem e Rafael Aranda
06.03.2017
Ramón Vilalta, Carme Pigem e Rafael Aranda fundaram o escritório em Olot, Girona, há já quase três décadas. É a segunda vez que o prémio vai para Espanha, e a primeira que distingue um colectivo de três arquitectos.

É a segunda vez que o prémio distingue a arquitectura de Espanha, depois da obra de Rafael Moneo, em 1996: Carme Pigem (n. 1962), o seu marido Ramón Vilalta (n. 1960) e Rafael Aranda (n. 1961) são os três sócios do RCR Arquitectos, o atelier com sede na cidade de Olot, perto de Girona, na Catalunha, que esta quarta-feira foi distinguido com o Pritzker de Arquitectura 2017, o mais importante prémio mundial desta disciplina.

O anúncio foi feito por Tom Pritzker, o presidente da Fundação Hyatt (Estados Unidos), que justificou a decisão por se tratar de uma arquitectura que “demonstra um forte compromisso com o lugar e a sua história”, e que “cria espaços em permanente diálogo com o seu contexto”.

O júri do Pritzker deste ano, presidido pelo australiano Glenn Murcutt, escolheu “três arquitectos que trabalham em colaboração há quase três décadas": "Aranda, Pigem e Vilalta tiveram um impacto na disciplina da arquitectura que foi muito além da sua especialidade. Os seus trabalhos abarcam espaços públicos e privados, edifícios culturais e instituições educativas, e a sua capacidade de se relacionarem intimamente com o ambiente específico de cada lugar é a prova do seu processo e da sua profunda integridade”, acrescenta o comunicado do júri.

Na lista de obras que justificam esta avaliação e a distinção com o Pritzker estão a pista de atletismo Tussols-Basil, na própria cidade de Olot, e que foi um dos primeiros projectos do trio de arquitectos, mas também a Adega Bell-Lloc, em Palamós, também na Catalunha (2007), o restaurante Les Cols, de novo em Olot (2011), o Espaço Público Teatro La Lira em Ripoll (em colaboração com J. Puigcorbé, 2011), o Museu [Pierre] Soulages, em Rodez, cidade nos Pirinéus franceses (em colaboração com G. Trégouët, 2014), e, também em França, o centro de arte La Cuisine, em Nègrepelisse (2014).

São obras que “partem de um lugar específico para realizar uma arquitectura universalista”, diz o professor, ensaísta e curador Nuno Grande, que vê aqui um paralelismo com algo que desde há muito caracteriza a arquitectura portuguesa, lembra o curador da exposição-livro Les universalistes, apresentada no ano passado em Paris.

“Os RCR não têm feito outra coisa, tornando cada obra sua num momento único de arquitectura. É claro que há princípios construtivos e materiais que se repetem no seu percurso – o uso de pedras locais combinadas com superfícies em vidro e aço reciclado ou oxidado, afirmando a contemporaneidade do seu gesto –, mas, no final, cada projecto parece ‘pertencer’ ao lugar que ajuda a consolidar”, escreve Nuno Grande num comentário para o PÚBLICO sobre o Pritzker deste ano. “Considerando que os RCR não possuem edifícios de escala monumental, houve aqui uma clara intenção de enaltecer uma perspectiva do tipo ‘small is beautiful’; ou não fosse o australiano Glenn Murcutt o presidente do júri”, acrescenta.

O comunicado do júri faz também referência ao uso pelos RCR de materiais modernos, como o aço reciclado e o plástico. “Eles demonstraram que a unidade de um só material pode dar a um edifício uma força e uma simplicidade tão extraordinárias”, disse Glenn Murcutt.

A segunda nota realçada por Nuno Grande é de “ordem interdisciplinar”, envolvendo o conceito de “paisagem”. “Conscientes de que se trata de um termo totalmente artificial, os RCR assumem a construção da paisagem a partir da arquitectura, não sujeitando a sua prática aos estereótipos retóricos da ‘ecologia’ ou da ‘sustentabilidade’. Os seus edifícios assumem-se sempre como elementos artificiais em saudável tensão com os elementos naturais de suporte, ‘domesticando-os’ ou ‘corrigindo-os’ como só um arquitecto ousaria fazer”, diz o professor e crítico.

O arquitecto Carrilho da Graça conhece o trabalho dos RCR desde há vários anos, mas apenas por via de uma exposição que deles viu em Madrid, e das publicações especializadas que desde há muito o têm vindo a divulgar. “É uma arquitectura com uma evidente preocupação com a forma e com os bons resultados”, diz ao PÚBLICO o arquitecto que, no dia de Carnaval, inaugurou precisamente no Museu Marítimo de Barcelona a sua exposição Carrilho da Graça: Lisboa.

“Os RCR são formalmente muito fortes”, reforça o arquitecto português, considerando também justo que Espanha – “um país com grande arquitectura e grande tradição nesta disciplina”, diz – veja a sua arquitectura distinguida pela segunda vez.

Esta é a primeira vez que o Pritzker distingue uma equipa com mais de dois arquitectos – depois das duplas Herzog & de Meuron (2001), da Suíça, e do atelier japonês SANAA, de Sejima e Nishizawa (2011). Referindo-se a esta escolha de um trabalho de equipa, o júri nota: “A colaboração destes três arquitectos produz uma arquitectura descomprometida, com uma forte dimensão poética, resultando num trabalho intemporal que reflecte um grande respeito pelo passado, ao mesmo tempo projectando uma claridade que é do presente e do futuro."

Nuno Grande vê nisto um significado de ordem “metodológica”: ao premiar o trabalho de um colectivo, o Pritzker 2017 “enaltece uma forma organizativa que é cada vez mais comum, e que, em certo sentido, simboliza o fim de uma dinastia de galardões atribuídos a ‘estrelas’ da arquitectura, isoladamente ou em pares, embora sempre marcadas por uma figura mais icónica”.

Mas há ainda uma possível leitura “política” do prémio deste ano. Depois da distinção a Rafael Moneo, o “arquitecto navarro de enorme prestígio, mas que vem simbolizando o universo da encomenda e da prática fortemente centralizadas em/por Madrid” – nota Nuno Grande –, “ao premiar agora um colectivo do interior da Catalunha, o Pritzker olha para uma região ibérica profundamente ligada à história da arquitectura moderna e contemporânea europeia, de onde poderiam ter já saído muitos outros premiados”. O crítico de arquitectura acha que esta “é também uma forma de dizer que a Europa, hoje em crise identitária, também se faz dessas múltiplas diferenças”.

Ramón Vilalta, Carme Pigem e Rafael Aranda completaram a sua formação na Escola Técnica Superior de Arquitectura de Vallès, Barcelona, em 1987. Fundaram o seu estúdio um ano depois, na pequena cidade natal de Olot.

A importância que desde o início deram ao sítio e à paisagem envolvente dos seus edifícios e equipamentos ficou logo demonstrada no projecto inaugural do atelier: a pista de atletismo do estádio Tussols-Basil, na sua cidade, do ano 2000. Trata-se de “uma pista de atletismo singular salpicada por árvores que já lá existiam”, descreve o jornal El País, que destaca também a atenção que o colectivo dá aos habitantes, às pessoas.

“As casas foram o nosso laboratório”, disse ao diário espanhol Carme Pigem, comentando o prémio. Num percurso de progressiva internacionalização para além das fronteiras da Catalunha e mesmo da Europa, os RCR terminaram recentemente um edifício de apartamentos no Dubai.

Fonte: Sérgio Andrade, Público


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