Tendo concluído a sua formatura na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, iniciou atividade em escritório próprio em 1960, onde desenvolveu trabalhos de Planeamento Urbano, Arquitetura, Arquitetura de Interiores e Design Industrial.
Associado no Sindicato Nacional dos Arquitectos, desde 1961, integra os órgãos sociais da Associação dos Arquitectos Portugueses: nos órgãos regionais Sul da AAP, desempenhou as funções de 2.º Secretário da Mesa da Assembleia Regional (1982-1983) e membro do Conselho Disciplinar da SRS (1984-1985); nos órgãos nacionais, de Secretário da Mesa da Assembleia Geral, com Vasco Morais Soares e Luís Vassalo Rosa, entre 1993 e 1995, e de delegado do Conselho de Delegados, entre 1996 e 1998.
Foi o primeiro presidente do Conselho Nacional de Disciplina da Ordem dos Arquitectos entre 1999 e 2001.
Na atividade de arquitecto, foi distinguido com o Prémio Valmor, em 1989 (Moradias da Cooperativa Coociclo na Rua Professor Queiroz Veloso n.º 2-38 e Rua Professor Bento de Jesus Caraça, em co-autoria com Maria do Rosário Venade, Maria Teresa Madeira da Silva, Nuno da Silva Araújo Simões e Sérgio Almeida Rebelo) e com o Prémio INH de Promoção Privada em 2006 (Habitações a custo controlado, Gala, Freguesia de S. Pedro, Figueira da Foz, com Nuno Simões e Joana Barbosa). Entre muitos outros, é autor ou co-autor dos projetos do Corpo de Anfiteatros da Universidade dos Açores em Ponta Delgada (Menção Honrosa no Concurso Público, com Nuno Simões, Sérgio Rebelo e Carla Garcia), das estações de Metro Rotunda 2 e de Cabo Ruivo e apresentou proposta para a Gare do Oriente com Nicholas Grimshaw.
Podemos ouvi-lo refletir sobre o processo SAAL em dois pequenos depoimentos-entrevistas depositados no Arquivo Audiovisual do Centro de Documentação 25 de Abril, Universidade de Coimbra:
parte um parte dois
NÃO É FÁCIL ESCREVER sobre um Arquitecto, muito menos quando se é sobrinho, e muito menos ainda no momento da sua despedida.
É com grande e profunda tristeza que escrevo estas palavras após a morte do Arquitecto Duarte Nuno Simões e são vários motivos que concorrem para este meu estado, destacando dois. O primeiro por ser seu sobrinho, perdendo assim um familiar que me foi tão próximo, de quem muito gostava e que recordarei sempre com grande saudade, carinho e admiração. Depois não menos importante porque perco um Arquitecto, um colega, com o qual tive o privilégio de muito aprender e de colaborar em tantos momentos da sua vida.
Perdemos todos um Arquitecto, que não só deixa uma vasta e grande obra, que abrange tanto o desenho de Mobiliário, como o desenho de Edifícios, como o desenho da Cidade, e inclusive a Escrita, como um Arquitecto que contribuiu para a construção da vida associativa dos Arquitectos e para a defesa de uma melhor e mais reconhecida Profissão.
Perde a Sociedade um Arquitecto que, para além do seu contributo enquanto tal, bateu-se desde muito novo por um mundo melhor, mais justo, e livre. Pertence efectivamente a uma geração que para além de grandes Arquitectos, foram também grandes Homens, no modo como tão generosamente souberam entregar-se tanto à Profissão como às causas da Sociedade, muitas vezes colocando em risco a sua própria liberdade.
Perde a Cultura um grande amante e conhecedor de Pintura e de Música. Era um Homem de Cultura, sendo prova disso o modo como participou na actividade e programação do Centro Nacional de Cultura. Habituámo-nos a conviver com prazer, com as obras que ocupavam temporariamente, as paredes do seu
Atelier, quer as de alguns dos grandes nomes da pintura portuguesa, quer as de muitos jovens pintores que iniciavam o seu percurso. A Música, essa ocupava um lugar muito especial e sério na sua vida, forçando-o a retirar-se em muitos momentos no ambiente mais privado e calmo da sua sala de trabalho, ainda que com alguma frequência partilhasse esse gosto com os outros em redor de um bom desenho ou da redacção de algum texto.
Fez parte do conjunto de Arquitectos que participou num dos programas mais relevantes da história da Habitação em Portugal, o programa SAAL, para o qual viria a desenvolver o projecto do Bairro da Estrada Militar na Amadora, tal como fez parte de uma importante instituição determinante para o desenvolvimento e expansão da Cidade de Lisboa, a EPUL, no âmbito da qual desenvolveu inúmeros projectos, uma vez mais no âmbito da Habitação, dos quais destaco o edifício em Telheiras que, com as suas Torres de Elevadores e Galerias de Acesso, de uma impressiva cor castanho, desenha a frente para uma nova Rua da Cidade. Ainda no âmbito dos projectos de Habitação, foi atribuído o Prémio Prémio Valmor de 1981 ao Conjunto Habitacional COOCICLO Telheiras Norte 1, 29 lotes (1,ª fase).
Participou no programa de expansão da Rede de Metropolitano de Lisboa para o qual desenhou algumas das novas Estações, bem como no Programa VALIS no âmbito do qual desenvolveria o Projecto de Reabilitação do Baluarte do Livramento.
Como Arquitecto participou ainda, como referido, activamente quer na antiga Associação dos Arquitectos Portugueses, quer mais tarde na fundação da Ordem dos Arquitectos, tendo tido entre outros um papel relevante na criação do seu Regulamento de Disciplina.
Dedicou ainda uma grande parte do seu tempo e da sua vida ao Ensino do Design e da Arquitectura, tendo sido Professor no IADE, durante muitos anos após a sua fundação, e mais tarde na Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, algo que fazia com grande prazer, e que se prolongava no
Atelier nas conversas em torno da Arquitectura.
Foi um Arquitecto que partilhava, com prazer, o conhecimento e o Projecto, com os mais novos, confiando-lhes decisões e o desenho de propostas, algo que terá aprendido com o Arquitecto Nuno Teotónio Pereira, com quem trabalhou no início da sua Actividade enquanto Arquitecto, e que recordo aqui pela grande amizade que os unia. Algo que culminou com o
Atelier que viria a fundar já neste século com a participação também de dois Arquitectos, mais novos, que o acompanharam de um modo tão decisivo ao longo de mais de trinta anos da sua actividade, o seu filho Nuno Simões e o Sérgio Rebelo.
Por fim, ou não fosse Arquitecto, tinha um enorme prazer em Desenhar, desde o encanto pelo desenho na resolução de um pormenor, ao desenho de uma paisagem, ou ao encanto pelo labirinto de uma abstracção que se constrói de um modo intuitivo.
Recordarei sempre com saudade os momentos em que lentamente levantava os óculos e aproximava o seu olhar para melhor compreender um desses desenhos.
João Santa-Rita
13 de Setembro de 2021